sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dançaterapia

Por: Gisela Cardoso Fazer arte, dançar, deixar que venha o que há de mais criativo em nós é experimentar, ao mesmo tempo, o dentro e o fora. A arte com o viés terapêutico permite que vivenciemos a realidade de forma mais rica e criativa. Ela nos faz levantar voo ou gozar o paraíso, mas também nos traz de volta para o que realmente somos. As artes, em geral, nos levam além dos nossos limites estreitos e também nos revelam novos limites. Podemos até pensar que isso é uma forma de ‘fantasia’. Pode ser. A diferença é que é uma fantasia consciente, da qual voltamos. E voltamos impactados. Não podemos ser iguais ao que éramos quando dançamos nas ‘pontes’ construídas pelo fazer arte. Algo muda. Mudamos nosso jeito de ser ou ficamos mais lúcidos no que queremos preservar, não importa. Mas deixamos de ser inocentes. Deixamos de ser ‘vítimas’ do ritmo externo, já que, agora, sabemos de nosso próprio ritmo. E do quanto ele é capaz. Ou limitado. E descobrimos que podemos sentir prazer também nos nossos próprios limites, por que não? Somos todos limitados e, ao mesmo tempo, ilimitados. Não há impedimentos para nenhum tipo de corpo se converter num artista de si mesmo. A única coisa que precisamos ter é coragem. Expressar a si mesmo, de maneira autêntica e criativa exige coragem. E respeito. Respeito por si mesmo, pelo próprio ritmo, e também respeito pelo outro, pela vida que se esmera em mostrar seu potencial através de todos nós. Respeito pelas diferenças. E pela maneira de expressá-las. Respeito pelo corpo e pela alma. Temos medo, parece, de vivenciar o corpo em toda a sua plenitude, de usufruirmos dos sentidos e de todas as nossas “selvagerias” advindas desse corpo. Tememos o corpo e perdemos a alma. A nossa alma. Precisamos devolver a alma para o corpo e vice-versa. Devolver para o corpo a liberdade de experimentar os sentidos, entregar para a alma a chave do coração e entender que ela é nossa, só nossa. O corpo é a nossa presença, ele tem um lugar, pois corpo ocupa espaço. É a presença de estarmos no aqui-e-agora. Podemos aprender novamente a sentir a alma no corpo. Como na dança, a vida,em alguns momentos, exige o nosso movimento mais preciso. E o mais original, o único que podemos dizer que realmente é 'nosso'... Dançamos pela vida com nosso ritmo a nos guiar, nada mais. A artemovimentoterapia é um convite para que conheçamos nosso próprio ritmo e suas variações. Com a dança criativa e livre, vivemos plenamente aquilo que podemos ser. E encontramos alma no corpo. E corpo na alma. E isso é fascinante. “Se você não está fascinado consigo mesmo, ninguém mais estará, e eu nunca encontrei alguém que não quisesse ser fascinante. Não estou falando de narcisismo, mas de ter um relacionamente dinâmico com o mistério divino dentro de si-mesmo – dentro do corpo, dentro do seu sangue. (...) No princípio, todos nós dançávamos...” (ROTH, G., 1997, p. 29 e 31) * imagem da obra "A Dança" de Henri Matisse. 1909.10

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